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terça-feira, 31 de outubro de 2017

A QUESTÃO DOS MORTOS



A questão da lembrança dos mortos, hoje definidas como “Dia de Finados” remonta aos primórdios da própria humanidade, com o nascimento da ‘Razão’, da memória histórica, do medo e do respeito aos que deixam de viver e se tornam seres do imaginário filosófico e teosófico. 

Um dos mais brilhantes livros que encontrei em minhas leituras, e relativos ao homem como ser pensante, inteligente, intuitivo e com memória histórica, é Cidade Antiga, publicado em 1864, de Fustel de Coulanges, genial escritor francês, nascido em 1830 e falecido em 1889. 

Desde os tempos perdidos na própria linha dos anos, a morte causa estupefação, medo e surpresa ao homem. O falecido sempre ocupou lugar material entre os seus conterrâneos e a lembrança, a memória do mesmo deve ser mantida. Perdida a memória o ente morre definitivamente. No capítulo II de Cidade Antiga, há espaço especial com relação ao culto aos mortos. A crença pós-vida deu lugar a fortes regras de conduta. Os mortos eram considerados criaturas sagradas. Tornavam-se divindades e tinham nas próprias casas onde viveram altares em sua homenagem e cultos rígidos praticados pelo homem mais velho do clã. A mulher era banida deste culto. Cícero dizia que ‘os mortos são homens que deixaram de viver; reverenciai-vos como criaturas divinas’. 

Passeando pela História vemos o culto aos mortos entre os helenos, entre os latinos, os sabinos, os gregos, os romanos, os etruscos, entre os árias da Índia, presente nos hinos do Rig-veda e inclusive no livros das Leis de Manu, tido como um dos cultos humanos mais antigos da humanidade. A metempsicose – transmigração da alma de um corpo para outro, seja este do mesmo tipo de ser vivo ou não - esta presente em várias religiões e cultos espalhados pelo planeta. Banquetes fúnebres ainda são presentes na Índia e outros países, inclusive Japão e China. Zeus era um deus que gostava de oferendas e bajulação, assim como outros. A morte elevou, como diz Coulanges, o pensamento do homem do visível para o invisível, do passageiro para o eterno, do humano para o divino. 

Nos tempos mais recentes, desde o século II os primeiros cristãos já oravam em favor de seus mártires, e nalguns lugares, em seus túmulos, estavam presentes com oferendas visando elevá-los à categoria de espíritos protetores, deuses e ‘amigos’. Já desde o século XI papas obrigavam a comunidade cristã a dedicar um dia do ano a seus mortos e No século XIII o dia 2 de novembro foi instituído como ‘dia dos mortos’. A História nos diz que foram os Druídas que tiveram esta iniciativa acreditando e pregando a continuidade da vida após a morte, o que se seguiu com León Denis, com a doutrina espírita. Após a Reforma Protestante o assunto foi bastante confuso, mas se efetivou entre os protestantes históricos da Europa e após 1980 foi instituída como ‘comemoração dos fiéis defuntos’. Na Prússia, Luteranos comemoram o ‘domingo dos mortos’, celebrado no ultimo domingo antes do Advento. A Igreja Metodista se vale do dia de todos os santos para comemorar o ‘dia de todos os santos, envolvendo os fiéis batizados. 

Para os espíritas, o dia, com a visita ao túmulo, é uma exteriorização da lembrança que se tem para com o ente querido. Uma forma de demonstrar a saudade, o respeito e o carinho daquele que se foi. Em muitos cemitérios se ostenta a frase latina: “Revertere ad locum tuum”, indicando que voltarás ao teu lugar....

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O PARADOXO DO TEMPO E ESPAÇO



O tempo não existe. É uma utopia humana. O tempo sem espaço é 


ficção. O inverso é verdadeiro. Só o homem tem noção e interpreta o tempo numa linha do espaço ou o espaço numa linha do tempo.

O ser humano criou o calendário para instalar nele o tempo e o espaço. Apenas o homem tem noção do ontem, do hoje e do amanhã, três figuras imaginativas e inconsistentes, já que o passado existiu, o presente ‘parece’ existir e o futuro, poderá existir, e num estalar de dedos tudo se torna em apenas retórica de linguagem.

O agora é fruto de uma opção. Se está acontecendo é um ‘agora’ absoluto. Se faz parte do seu espaço de tempo chamado hora, minuto ou segundo, é relativo. Quando o ‘agora’ acontece ele não chega a existir para se tornar passado, daí tê-lo classificado apenas em termos de hora, minuto e segundo. Não dura mais que um breve instante. 

O passado é imutável. O futuro é previsível, mas tão inconsistente como o próprio agora. Portanto, o tempo e o espaço não sobrevivem separadamente. O tempo precisa do espaço e este não subsiste sem o tempo. E nisto tudo só o homem é dotado de entendimento e compreensão bem como o uso do tempo e do espaço, a quem denominou calendário.

O homem criou o tempo e estabeleceu como sua alma o espaço. Dizem que Deus não sofre a ação deste duo paradoxal e por isso é eterno. Não sendo submisso ao espaço não há o que se falar, com relação a Deus, em tempo. 

O homem registrou o tempo que a Terra percorre um espaço em torno do Sol. São exatos 365 d, 5h, 48m, 45s. Dividiu isto em doze meses e nasceu o mês, igual a 29d, 12h, 44m, 02s e dividindo este por trinta chegou ao dia, igual a 23h, 56, 04s. Escravo da matemática, se submeteu ao movimento dos astros para definir seu tempo de vida e do uso do tempo em sua existência e dos seus semelhantes. Embora não exista nem espaço nem tempo, estes, com uma força colossal, subjuga o homem em sua trajetória imaginária num tempo e num espaço.

Descobriu que o ‘eixo’ da Terra está inclinado com relação ao Sol em 23º e 27’. Entendeu daí porque a cada três meses o ‘tempo’ é diferente e nasceram as estações do ano. De novo o tempo e o espaço a lhe atormentar e responder às suas inquietantes perguntas. Primavera, de 23 de setembro a 21 de dezembro; verão, de 21 de dezembro a 21 de março, outono, de 21 de março a 21 de junho e inverno, de 21 de junho a 23 de setembro, no hemisfério sul. E em breve, a primavera faz com que as flores, milagrosamente, surjam, se convertam em frutos no verão, e, em outono as sementes se consolidam no milagre da continuidade da vida. No inverno se renovam para tudo recomeçar em breve. O corpo é a flor, mas a alma é a primavera, diz o poeta.

E, se não há o tempo nem o espaço, por que a natureza responde a este duo inseparável?

O espaço segue as ordens do tempo, mas, o tempo jamais se curva à vontade do espaço. 

O tempo, porém, rege a vida em todos os seus sentidos. O espaço é o trilho por onde o tempo parece acontecer. O tempo e o espaço embora pareçam separados só existem juntos e juntos, não existem.

Paradoxos?