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segunda-feira, 18 de março de 2013

O OBELISCO DA PRAÇA SÃO PEDRO


A praça São Pedro é hoje um dos pontos altos do Vaticano, sendo a sede religiosa do Cristianismo. O Vaticano é uma cidade-estado. Fica dentro da cidade de Roma e tem cerca de 44 hectares e por volta de 800 habitantes, todos vinculados à Igreja Católica. Existe desde 1929 por força do Tratado de Latrão. Foi inicialmente doado pelo Imperador Constantino, que adotou o Cristianismo como religião no Império Romano, provocando o deslocamento do poder político e cultural da época, doação esta feita ao papa Melchiades em 313. No local o poder romano fez instalar o Circo Romano, local onde eram mortos os presos políticos do Império Romano, também chamado de Circo de Calígula, que governou Roma de 37 a 41 a.C. Próximo dali foi supliciado Pedro, o apóstolo principal de Cristo. Depois do declínio romano o local ficou abandonado e servindo como cemitério por cerca de 15 séculos. 

No século XVII, por ordem do Papa Sisto V, foi iniciado um projeto do artista barroco Gian Lorenzo Bernini(1598-1680) que criou todo o complexo de prédios que hoje se vê no local. A obra é magnífica e gigantesca tendo cerca de 240 metros de largura e lembrando mãos postas constituídas pelas colunatas e construções colossais. No início das obras, foi trazido de Heliópolis (Behrshemesh ) no Egito, um colosso de pedra com cerca de 40 metros de altura, em granito vermelho, originário da região de Assuão, em forma de obelisco(pedra com ponta em lança e base quadrada ou triangular).

Foi construído para ser erguido no centro de Heliópolis, no templo de Rá, na dinastia do faraó Manenenhat II e saqueado da região como muitas outras peças relativas ao Egito antigo. Trazido para Roma, era uma homenagem aos imperadores romanos Augusto e Tibério. Encerrava, originalmente, as cinzas de Julio Cesar, que depois foram transferidas para um museu em Roma. Na sua base quadrada existem 4 leões de bronze. O local atual foi ocupado em 1585 por ordem do papa Sisto V. O obelisco foi definido como o elo entre a antiguidade e a cristandade.

Na oportunidade da instalação definitiva, atuou como responsável o arquiteto Domenico Fontana, que fez construir torres de madeira com movimentos e mais de 300 metros de altura, sendo usado cerca de 900 homens para erguer o obelisco em obra que durou mais de 4 meses. Fontana também é o criador da famosa obra “Fontana di Trevi”(Fonte dos trevos), em rione Trevi, em Roma.

Interessante como o obelisco se tornou como símbolo em vários países e culturas. Existem diversos espalhados pelo mundo e ao longo da história. Os egípcios entendiam o obelisco como uma ponta de lança a perfurar as nuvens e dispersar para longe as forças negativas. Era a força do deus Sol, símbolo da masculinidade. Outros já entendem o obelisco como uma apologia fálica.

Já sob o domínio do Cristianismo, o local foi depois rodeado por suntuosas construções que hoje compõem o rico acervo do Clero romano. Depois de instalado, o símbolo pagão foi transformado em símbolo cristão com a instalação, no seu ápice, de uma cruz indicando que ‘Cristo venceu e está acima de tudo‘ e afirmam alguns, que no local existem pedaços da cruz original onde Cristo foi martirizado, fato não comprovado, e com certeza, fantasioso.

Curioso como o referido obelisco parece desaparecer nas cerimônias realizadas na Praça São Pedro. Quase não é visto nem observado pelas milhares de pessoas que por ali passam constantemente. Não desaparece, porém, de todas as torres das igrejas romanas, dos túmulos cristãos, das lapides em todos os cemitérios do mundo. A própria Torre-de-Babel é um exemplo da forma obelística (espeto). O símbolo é presente e constante em todas as culturas humanas. Várias entidades como a Maçonaria e assemelhadas usam este símbolo em suas obras e templos. Interessante como um símbolo pagão se inseriu e domina em praticamente todas as religiões do planeta.

Nascido para simbolizar o poder de Amon-Rá, o obelisco se tornado romano foi transfigurado num símbolo do poder religioso e institucional do Cristianismo. Um obelisco egípcio e então profano é o epicentro da Cúria romana e parece ali perdido no tempo e no espaço, onde a figura papal é que brilha agora no mundo católico.

Coisa dos tempos.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O CARRO DE BOI E SUA TRAJETÓRIA


O tempo é mesmo um fio que une o passado ao futuro passando pelo presente, que é fugas e intrometido. O transporte de bens móveis foi e é para o homem um elo que une o sistema antigo ao moderno e até ao futuro. A movimentação dos bens móveis na superfície do planeta é uma ação que remonta os calendários e sem dúvida permanecerá e a cada dia mais subjugando o homem, seu criador. 

As costas serviram como base do transporte inicial. O cangote, ou cogote, é a região da nuca que foi o sistema pioneiro onde o homem antigo acomodou seus bens móveis e os transportou pelos seus domínios de então. A roda nasceu e a carriola, como uma alavanca rodante, moveu o mundo, folgando as costas humanas. Mais bens e maiores distâncias fizeram nascer a carroça, um carro grosseiro, com rodas pesadas, alavancado por dois varais e pela força de um animal, inicialmente o cavalo, e depois o boi. O carroção deu lugar a mais peso e mais quilômetros. O homem já viajava pelos arredores onde nasceu. Se tornava, com isto, regional.

O homem se tornou viajante. O carro de boi o meio de viagem segura. Bens móveis e familiares se acomodavam nesta ‘máquina’ e as distâncias eram devoradas com a brisa no rosto, o calor nas cabeças e a poeira das estradas. No mundo, egípcios, chineses e hindus já usavam os bois para arrastar seus bens sobre rodas improvisadas. Em 1549 Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil já usava esta ‘máquina’. As roças dos engenhos se baseavam no carro de boi e suas juntas poderosas de bois criados para tal trabalho. Eram imprescindíveis para a vida no campo. A revolução farroupilha usou do carro de boi brasileiro transportando carretões de madeiras pesando de 12 a 18 toneladas. Cerca de 50 juntas de bois formavam a força de tração.

No século XVIII o burro ameaçou a primazia do boi. Os muares eram mais ágeis e não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século os cavalos assumiram os encargos e o carro de boi começou a ser proibido de transitar pelas cidades, ficando seu uso restrito ao meio rural. Os veículos motorizados invadiram o setor e o carro de boi e a carroça foram perdendo seus espaços e hoje estão restritos s pequenos pontos do país.

Um carro de boi autêntico tem a canga, onde se prende o cabeçalho ou cambão, colocada sobre o pescoço de dois bois, o canzil, forma de estacas trabalhadas que atravessam a canga de cima para baixo de modo que cada boi fique entre duas dessas estacas, a arreia, que são os suportes que atravessam de forma transversal o cabeçalho, a cantadeira, parte do eixo que fica em contato com a parte superior do chumaço, produzindo um cantar característico do carro ouvido a quilômetros de distância, a cheda, o cocão, o fueiro, a mesa, o recavém, o tambueiro, a brocha e a roda.

Os cultores do folclore não esquecem o carro de boi. Estes são lembrados em festivais realizados em vários locais, com destaque para o festival de Formiga, Bambui, Bertioga, Vazante, Macuco de Minas, Pará de Minas e outros locais. No Solar do Unhão, sede do Museu de Arte Moderna da Bahia, criado por Lina Bo Bardi, o carro de boi é o ponto alto da festa. Músicas sertanejas como ‘Boi de Carro”, de Tonico e Tinoco, eternizaram nosso mais antigo meio de transporte rural.

O tempo fez se aposentar o carro de boi, as carroças e por fim as charretes, mas não faz desaparecer da mente do caboclo natural, dos intelectuais que honram o passado com suas histórias e registros, a magia que tal engenho humano exerceu e exerce sobre todos nós. Está em nossa genética, em nossa história familiar e comunitária o sentimento de gratidão que todos devotam a este equipamento que nasceu do esforço do homem, conjugando as forças do animal, para fazer da vida humana o que ela é hoje, frente à tecnologia, sem se apagar o passado.

Nossa homenagem ao velho e inesquecível carro de boi.