É estranha a forma como o homem
se comporta, na história, frente à mulher. É constrangedora a maneira como o
homem tratou (e ainda trata) a mulher como ser secundário e de ‘uso particular
do homem’, relegando o ser feminino a situações que, ao ver moderno, causa
revolta e até um certo nível de piedade. A mulher na natureza é uma figura que
merece lugar na graça, ou seja, no seu relacionamento claro e merecido com o
Criador. O feminino na história da vida é fundamental para a própria
continuidade da vida terrestre.
Na
religião esta posição inferior salta a nossos olhos. O livro básico das
religiões cristãs, a Bíblia, é um depositário de comportamentos machistas e
doentio do homem frente à mulher. No livro Genesis é humilhante a forma como a
mulher é retratada. Afirma que Deus criou o homem e a mulher de formas
distintas. A mulher provém do varão. Deus deu ao homem supremacia. O varão não
provém da mulher, mas a mulher provém do varão (1 Co II: 8, 9, 11,12). Continua
afirmando que o marido é a cabeça da mulher (Ef. 5:23) de igual forma que
Cristo é a cabeça da Igreja.
Primeiro,
Deus criou o homem, Adão, depois Eva. Narra o Gênesis que Adão não foi
enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão (1 Tm 2.13,14),
estando ai a primeira e mais poderosa advertência contra a mulher. Todos os
erros foram partidos da mulher no Livro Gênesis. A segunda mulher bíblica foi Sara, que teve
efêmera participação, e em especial reprodutiva (1 Pd 35,6). A terceira foi Débora, profetisa e juíza em
Israel (Jz 4; 4-10), que se destacou condenando a negligência dos homens. No
Novo Testamento a Virgem Maria é agraciada e bendita entre as mulheres; Isabel
é citada como a mãe de João Batista e prima de Maria; Ana, idosa viúva com 84
anos é dedicada ao serviço de Deus; Maria, irmã de Lázaro é citada em Mc 14:8 e
Maria Madalena tem a honra de transmitir a mensagem da ressurreição de Cristo
aos discípulos (Jô 20:17). O resto é silêncio sobre as mulheres.
Interessante
como não é citada nenhuma mulher, como autora, na extensa relação de livros que
compõem a Bíblia. Os apóstolos eram homens. “Sete varões de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria” são os escolhidos para em Atos 6,
‘servir às mesas’. Nenhuma mulher. Afirma o referido livro: “Quando as mulheres
saem de seus lugares se transformam em presas especiais do diabo”. Em 1
Coríntios 14, 34,35, se lê “a mulher deve se calar nas igrejas”. À mulher
bíblica é atribuída obediência, submissão ao homem e à sociedade.
São
João Damasceno afirmou: “A mulher é filha da falsidade, sentinela do inferno, a
inimiga da paz e por causa dela Adão perdeu o Paraíso”; Santo Antonio escreveu:
“ a mulher é a fonte do braço do diabo e a sua voz é o chiado da serpente”; São
Cipriano completa: “ a mulher é o instrumento de que se utiliza o diabo para
ganhar as nossas almas”. Comentaristas
cristãos ensinavam que Deus deu forma a mulher de uma das costelas de Adão.
Isto foi necessário porque Adão não pode achar uma ‘adjutora’ dentre os animais
que Deus trouxe. (Genesis, 2:20-22). Adão culpa Eva e Eva culpa a serpente
(Genesis 3:12-13). “Esposas, sede submissas ao próprio marido como convém ao
Senhor” (Efésios 5:22-24).
O
Alcorão Sagrado rege a vida religiosa no Islam (ou Islã). Neste livro não há
absolutamente nenhuma diferença entre homens e mulheres. A 4ª Surata An Nissá, versículo
19, diz:“ Harmonizai-vos com elas, pois se a menosprezardes, podereis estar
depreciando um ser que Deus dotou de muitas virtudes”. Dirigindo-se a Adão Deus
disse: “E tu, Adão, habita com tua esposa o Paraíso” (7ªSurata Al Aaraf, vers.
19 a 23). O profeta Muhammad afirmou: “O mundo e todas as coisas contidas nele
são preciosas, mas a coisa mais preciosa do mundo é uma mulher virtuosa”. O
Islam considera as mulheres com o espírito e o intelecto igual do homem. A
única distinção entre ambos está no aspecto físico, sendo instituída a
co-responsabilidade do homem e da mulher em todos os atos humanos. A procura do
conhecimento é um dever para todos os muçulmanos. A religião abrâmica é definida
pelo Suna, uma espécie de bons exemplos, definidos por Maomé no século VII.
Deixa claro que a relação entre o casal é comandada com base em valores morais
como o amor, o respeito, a compreensão mútua e a misericórdia.
Apesar
de tantos ensinamentos, a prática foge, em várias situações, ao que determina a
lei religiosa. No Sura 2:228, está escrito que os maridos estão em grau acima
de suas esposas: o Sura 4:11 diz: o homem pode ganhar o dobro da partilha da
herança com relação à mulher: o Sura 4:3: o testemunho da mulher vale metade do
testemunho do homem; no Sura 4:3: um homem pode ser polígamo com até 4 esposas.
Estas adaptações são de natureza cultural e variam conforme o grupo religioso,
gerando extensas agressões entre grupos religiosos e a lei.
No
Budismo antigo e original, a mulher não era citada em nenhuma situação. Buda
afirmava que a mulher só alcançaria a salvação se renascesse como homem. No
Mahaparinibbana Suta – 5ª citação em 5.9 se lê: “não olhem para as mulheres. Se
olhar, tome cuidado e pratiquem a atenção plena”. O tempo correu e
Mahaprajapati, tia e mãe de criação de Buda, tornou-se, depois de muita
insistência com o Mestre, a primeira monja budista, totalmente limitada às
ordens dos homens. No budismo moderno, as mulheres possuem o mesmo potencial que
os homens e ambos podem alcançar o estado de Buda (iluminado).
No
livro Vedas, fonte religiosa na Índia, as mulheres tem um ‘status’ de igualdade
significativo. Alguns rituais são praticados só por mulheres. Nos fundamentos
budistas, o homem (ser humano) é submetido ao desejo (Devas inferiores). Isto
faz com que na Índia a questão da sexualidade fique em planos elevados e até
religiosos. Segundo o Dr. Luiz Alencar Libório, mestre e doutor em Psicologia
da Família, as concepções filosóficas (e culturais) criam discriminações e
injustiças. Há uma dicotomia e uma dualidade enorme com relação ao que pensa e
sabe o homem ocidental com relação ao oriental.
No
budismo atual não há distinção entre homem e mulher. O Dhama não faz distinção,
mas as culturas sim. Na Índia antiga a mulher era vista como imunda e indigna,
só servindo para a procriação e satisfação dos desejos masculinos. Hoje
mulheres são monjas e têm os mesmos direitos e privilégios que os monges. O que
se reverencia no Budismo não é o gênero masculino ou feminino, mas a mente
iluminada, capaz de incluir todos os seres na grande ternura da acolhida
suprema.
O
espiritismo afirma que o espírito não tem sexo. A vida do espírito é eterna; a
do corpo é transitória. Portanto, a igualdade é plena entre homens e mulheres.
Nestes
livros sagrados analisados, a mulher tem papel importante, de uma forma ou de
outra. Massacrada e até explorada, em todos os sentidos, a mulher tem buscado
se igualar ao homem em seus direitos e deveres, inclusive no campo religioso,
com grande e impressionante sucesso, com relação à linha do tempo. Por que igualar e não superar? Será que a
mulher quer se igualar aos homens sabendo do grande volume de erros cometidos
por eles no transcorrer dos séculos?
A
única coisa que é mulher não pode e não deve ao buscar se igualar ao homem é se
esquecer da importância de continuar a ser feminina e ser gentil, ser meiga e
ser mãe.