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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

FRASE PARA PENSAR...

"O pior de ter passado pela morte não é ser esquecido.É esquecer."


Esta é a última frase do livro Imperatriz no fim do Mundo - Memórias Dúbias de Amélia de Leuchtemberg, de Ivanir Alves Calado, Ediouro,1953.
Profundidade e discernimento à toda prova. Bom ler isto.
Os deuses antigos( e atuais) 'lutam' para não serem esquecidos. Uma vez esquecido, a eternidade se esvanece e tudo acaba.
A vibração da memória tem o poder da eternização concreta.




sábado, 6 de agosto de 2011

A SAGA DO HOMEM FRENTE A SEUS SÍMBOLOS


   Por que a Humanidade, desde seus primeiros raios da razão, criou, independentemente, em todos os rincões do planeta, a mesma forma explicativa da origem de tudo, desde o Universo até o homem, variando, apenas, a forma e mantendo idêntico núcleo inicial?
      Caminhemos em busca da resposta seguindo a pista básica: o ser humano é extremamente simbológico. Desde os primeiros momentos no despertar da ‘razão’, o homem se fez acompanhar de seus símbolos, sem os quais não resiste às diversas formas de ação e reação com o meio ambiente que o assusta, aterroriza e ao mesmo tempo o atrai. Símbolo é todo objeto físico que tem uma representação abstrata. Tem valor evocativo, mágico ou místico. Atrás de todo símbolo estão ocultos ensinamentos, crenças e superstições humanas. O símbolo está direta e firmemente relacionado com uma crença ou ritual e, raramente, com a parte religiosa de cada ser humano, embora pareça isto um paradoxo. O homem é primeiramente místico, depois religioso e ainda depois, pode ser ateu, e jamais em linha inversa.
        O ser humano, e somente os humanos, dentre os demais animais, se vale de símbolos para contar, representar e interpretar sua própria história. Não se vale o homem dos símbolos apenas no campo filosófico-religioso, valendo-se deles em toda sua vida, seja social, profissional, familiar e mesmo individual. Os símbolos podem variar de significados conforme a cultura, a região e o tempo. O pentagrama, por exemplo, no início do tempo cristão, representava as cinco chagas de Cristo enquanto que na Wicca, o mesmo símbolo representa os quatro elementos básicos da natureza:  água, terra,fogo, ar e o quinto elemento é o espírito, enquanto que na maçonaria, o pentagrama (estrela de cinco pontas) representa o homem perfeito, no aspecto físico, emocional, mental, intuitivo e espiritual.
          Símbolo vem do grego antigo symballein significando agregar. Carrega o sentido de unir as coisas para criar algo maior do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma idéia complexa (Mark O’Connel.,Signos & Símbolos,introd.). Confúcio afirma: ‘ Os signos e símbolos governam o mundo, não as palavras e as leis”. Sumer (Sumerianos) é a civilização mais antiga registrada pelos historiadores e são responsáveis pelo primeiro sistema de escrita conhecido.Usavam pictogramas ou ícones valendo-se 2 mil símbolos gráficos,cada um representando uma idéia,uma coisa, não uma palavra, de uso bastante limitado. Depois perceberam que os signos poderiam ser utilizados para representar sons e nasceu a escrita cuneiforme, surgindo uma vasta forma de representação de idéias,coisas e sons. Desta vasta coleção gráfica surgiram os templos, depositários do conhecimento onde as formas,as paredes internas e externas, tetos e pisos eram verdadeiras  bibliotecas disponíveis.Nascem os ziguratos, embriões dos futuros templos, com formas indicativas de montanhas cósmicas como Babel, escada unificadora do céu e da Terra e claramente significando o orgulho humano tentando se igualar à magnificência de Deus. Surgem os símbolos do poder e proteção, as esfinges maciças(Lamassu) com asas, o leão ou o touro com cinco pernas,asas e cabeça humana com barba, representando a vigilância contra os inimigos,o poder humano sobrenatural e a eterna vigilância contra o mal;  a deusa Lua, o deus Sol, as constelações e o zodíaco.
            Seguem-se civilizações como a egípcia, com suas pirâmides significando a ascensão perfeitamente alinhada com o Sol e as estrelas, o cosmo, combinando perfeitamente o triângulo e o quadrado que se tornam companheiros simbológicos da humanidade desde o raiar da consciência humana, indicando o domínio do poder da vida sobre a morte. A ordem é representada por Hórus e Set representava o caos. Os ritos buscavam o equilíbrio das forças e disto surgiram deuses secundários e as seitas, depois transformadas em religiões. A vida continuada após a morte é representada pelo escaravelho e a cruz ansata (o Ankh), formada por uma alça oval invertida (representando o universo, o macrocosmo) acoplada sobre uma cruz tau (T), representando o homem, o microcosmo. Esta simbologia une o Céu e a Terra e o símbolo, que une Osíris(a cruz) e Isis( o oval) é a chave que destrava os portões da morte para a eternidade, fundamento da vida humana no planeta Terra.
            Os gregos e romanos influenciaram a Sociedade Ocidental no campo religioso, social e jurídico. Os deuses e deusas do panteão greco-romano ditavam as normas aos mortais do planeta Terra do Olimpo, cujas ordens emanavam do templo de Apolo em Delfos, nas encostas do Monte Parnassus. Prevaleciam os ciclos da natureza e em cada um, deuses e símbolos atuavam. Reinavam os Mistérios de Eléusis, rituais anuais e secretos, que foram observados por 2 mil anos. Até hoje símbolos ali nascidos se espalham por todo o planeta, como por exemplo, o caduceu, haste ou bastão entrelaçado por duas serpentes (o deus Hermes, grego e Mercúrio, romano), que simboliza a medicina homeopática ou também o comércio); a coroa de louros, ligada a Apolo, a coroa da vitória Greco-romana, largamente usadas em competições internacionais como olimpíadas e outros jogos); os cinco anéis, que formam o símbolo dos jogos olímpicos modernos e tantos outros.  
            A Europa pagã foi rica em mitos e símbolos. Os celtas eram amantes da natureza. O caldeirão celta, de onde renasciam os mortos, foi o precursor do Santo Graal das memoráveis lendas de Arthur. Os anglo-saxões adoravam seus cavalos como deuses representantes da prosperidade e dignidade. Os Vikings eram comandados pelo deus Odin, também detentor do poder do pensamento e da memória contando com a ajuda de Thor e seu poderoso machado, senhor dos raios e trovões, ao lado de Freya, a deusa do amor e da beleza.
            O Oriente Médio foi testemunha do início de civilização que foi o berço do Judaísmo, do Islamismo e do Cristianismo, três riquíssimas fontes de mitos, de símbolos e signos. Os persas fizeram nascer o centro do poder iraniano unindo toda a Mesopotâmia política e cultural ao Egito, outro manancial de simbologia, misticismo e divindades. Faravahar era o deus supremo dos persas – Ahura Mazda, uma imagem majestosa nascida de um disco com asas, representando a aspiração humana de unir-se ao deus. Os bons espíritos(ahuras) e os maus(daevas) criam antagonismos que levam o homem a pensar no passado, no presente e no futuro. O fogo é o elemento purificador no zoroastrismo e um touro branco representa a criação máxima e geradora de todas as outras formas de vida. Os famosos ‘tapetes persas’ representam a estabilidade familiar, social e humana e são símbolos milenares da região. O incenso é o elemento químico natural máximo, representando o sagrado, enquanto que o olibano está associado à masculinidade e o espírito dos céus, e a mirra ao feminino e à terra. As espirais de fumaça clara e aromática formadas pela queima do incenso eram consideradas asas condutoras das orações e representavam a comunhão com os deuses.
            As tendas usadas pelos beduínos simbolizam a dualidade do masculino e do feminino. É o local onde a divindade é convocada a se manifestar; é a ligação entre o Céu e a Terra.  O véu negro usado pelas mulheres indica a condição de mulher casada. O homem é livre, e há o predomínio da cor branco, já que o homem é  independente, em todos os sentidos.
            A África Tribal cultua um arsenal de talismãs, símbolos da energia divina encapsulada em um objeto. Nesta região existe um mundo vasto, diverso e rico em cultos, divindades, cantos, danças e cerimoniais divinos. Seus habitantes acreditam que o poder espiritual possa ser manipulado para o bem ou para o mal. Pajés e Ngangas (benzedeiras) são imprescindíveis na vida social e tribal. As máscaras retratam a diversidade das divindades e dos espíritos dos ancestrais. A cabaça representa o universo e o Sol e a Lua ‘circulam’ em linhas opostas e constantes em torno da superfície da cabaça. A terra, o solo, está no interior da cabaça onde coexiste com os homens. Os tecidos são confeccionados e adorados como talismãs e retratam as famílias. A arte adinkra, que são símbolos pintados à mão, identifica cada grupo étnico e a posição social de cada usuário da roupa, sendo o tecido um grau de ascensão social.
            A simbologia ao sul e a sudoeste da Ásia é rica e dramática. Grandes civilizações já estavam na Índia por volta de 2.500 a.C e na China por volta do ano 200 a.C. O chamado terceiro reino é o Japão, tão rico quanto os dois anteriores em tradições, simbolismos e crenças, remontando ao século VII a.C, legando até a atualidade a dinastia Jimmu. A deidade principal do panteão xintoísta é o Sol e a bandeira japonesa ostenta um sol vermelho sobre um fundo branco puro. Japoneses tem símbolos eternizados como o dragão, símbolo do poder imperial e da tarefa atribuída ao imperador de mediar entre o Céu e a Terra em favor dos homens da ‘ terra do sol nascente’. Outros símbolos são as montanhas (sagradas moradas dos deuses), o faisão (ave celeste), grãos de arroz (alimento), o machado (trabalho), a chama (eternidade), a espiga d’água (a vida), o vaso sacrificial ( a vida eterna) e os padrões representantes da justiça.. São símbolos básicos a Grande Muralha, símbolo do poder, da divisão, de atitudes rigorosas e opressão Na Índia o Taj Mahal é o símbolo duradouro e profundo do amor. Na China o chá é o símbolo do respeito, da fraternidade, da benevolência sendo oferecido a todos os visitantes, não se podendo recusar a oferta sob pena de ofensa. Sete décimos da xícara são preenchidos com café e os outros três décimos representam a amizade e a afeição.
            É importante observar que a simbologia, a crença, os mitos, as lendas são uma constante em todos os pontos do planeta, independentes uns dos outros, mas com uma perfeita relação de significados e fundamentos. Parece que houve uma espécie de onda coletiva que alcançou a todos os povos da Terra, simultaneamente.
            A América Central e a América do Sul guardam esta relação de forma bastante significativa, talvez pela ligação física entre ambos, e isto até de forma mais marcante do que atualmente. Os Maias tinham o deus Itzamná como o mais elevado no panteão, senhor do leste e oeste, do dia e da noite, disseminador do conhecimento, da cultura, da escrita e criador de Mayapan, a grande capital maia. O jaguar era um deus  cultuado e respeitado, representando a realeza. O calendário, criação maia, tem expoente máximo  na Grande Pedra do Sol, que  simbolizava o tempo, fixado em uma rocha com 4 metros de diâmetro e é uma perfeita calculadora de datas, fatos, fenômenos, inclusive em nível extraterrestre, ou seja, em nível cósmico. Afirmam historiadores que os maias praticavam sacrifícios humanos, em especial de inimigos capturados, celebrando a ligação entre os deuses e os homens. Praticavam jogos, um deles assemelhado ao futebol, onde a bola (de um tipo de látex), representava  a Lua ou o Sol e a quadra o mundo. Os huacas eram locais sagrados e eram representados por cavernas, nascentes de rios e os seixos eram amuletos de alta simbologia e proteção. Cada dia reservado à agricultura tinha um deus e, os mais, costumavam desenhar nas grandes encostas montanhosas animais como um beija-flor, uma baleia, um macaco ou uma aranha, que, vistos  de forma aérea, são figuras perfeitamente geométricas, parecendo indicar alguma coisa a um suposto viajante espacial.
            A América do Norte, que em parte do tempo geológico esteve ligada a outras extensões de terra existentes no hemisfério norte e praticamente separada da América Central e do Sul, mostra uma simbologia diferenciada, mas semelhante. O Estreito de Bering era o caminho natural dos habitantes asiáticos que viveram na área há cerca de 15 mil anos. Os nativos americanos mantinham estreita ligação com a natureza, com a terra, Gaia. O Grande Espírito criou tudo e a todos em círculos e tudo se assemelha ao que a grande maioria das religiões indicam como o princípio criacional  da Terra e dos seres vivos, inclusive do Universo. O bisão, o urso, o búfalo, o lobo, a águia destacavam-se como representantes da vida, da força, do equilíbrio e da paz. Montavam seus totens (guardião principal do indivíduo ou da comunidade como um todo) e conta a história dos ancestrais daquele grupo étnico, numa interessante superposição de rostos, elementos naturais, figuras de animais e vegetais. O milho, no sul do México, era uma herança divina da deusa Iroquois, filha da Mãe Terra. Os xamãs usavam o tabaco como meio de ligação com espaços superiores da espiritualidade. Atos diferentes, fundamentos semelhantes, objetivos praticamente iguais, onde tudo é dito, expressado e santificado pelo uso de símbolos signos e crenças.
            As regiões árticas não ficaram de fora nestes mistérios. O Ártico inclui a Sibéria, partes do norte da Rússia, o Alasca, nos Estados Unidos, o norte do Canadá, a Groelândia, a Lapônia, a Finlândia, o norte da Noruega e a Suécia. A região ártica é conhecida como ‘terra do sol da meia-noite’. As forças da natureza são chamadas de innua e fazem parte delas a água, o ar, as pedras e os animais. Estas forças podem ser personificadas pelos guardiões dos homens, os torngak. O iglu é um símbolo de lar e vida familiar. É a residência de gelo utilizada pelos inuítes, os ‘ esquimós’, constituído por blocos de gelo de forma espiral ascendente com um orifício superior. Em 1958 o governo canadense registrou a imagem do iglu como marca indicativa do trabalho dos artistas e dos escultores inuites. Os antigos lapônicos, hoje saami, são caçadores hábeis e acreditam que o mundo foi criado em três escalas: o mundo inferior, o mundo intermediário e o mundo superior, lembrando uma tenda que chamam de ‘tenda cósmica’, onde o ápice é preso à Estrela Polar. O princípio básico da criação do homem e do universo permanece constante em todos os povos. A rena é um símbolo saami com várias facetas da vida e da morte, sendo ela a condutora da alma de uma pessoa para o mundo superior.
            Jung afirmava que um signo esta sempre ligado ao pensamento consciente e que um símbolo representava mais do que o seu significado óbvio e imediato, buscando algo ainda não conhecido e que  ocorriam, signos e símbolos, não apenas nos sonhos mas em todos os tipos de manifestações psíquicas. A Teoria do Inconsciente de Jung expressa que o homem se vale de símbolos para expressar os temas universais humanos, e ,por conseqüência, a universalização do mesmo pensamento básico da ação criativa em todos os pontos do planeta e em todos os tempos, desde o estalar de dedos da ‘razão humana’.
            O homem antigo e o homem atual são submetidos, historicamente, sempre, às mesmas pressões do meio e do grupo social onde viveram e vivem. Não poderiam agir de forma diferente quanto às suas crenças e nem teriam signos ou símbolos de diferentes significados, apesar de terem estes símbolos formas diversas de serem grafados e isto em razão de que, tanto o homem antigo como o homem atual, caminharem sob a ação dos mesmos elementos em todos os tempos: o ar, o fogo, a água e a terra. Desta ação, a reação não poderia ser diferente, daí as crenças se basearem, sempre, nos mesmos fundamentos e as religiões nos mesmos pilares, em semelhantes dogmas, tratados de formas diferenciadas no transcorrer dos séculos..
            Por esta razão, todas as religiões têm o mesmo princípio básico: um Deus criador de todas as coisas e muitos deuses ou divindades para administrarem todas estas diferenças.

            Tanabi, agosto de 2011.