Pelas ruas, descalço, roupas carcomidas pelo tempo,
Um menino pede pão desejando boas festas.
Feliz Natal!
Na mesma calçada, um homem apressado, evangelho à mão.
Sorriso abundante. Feliz com a vida e si mesmo.
Cumprimenta a todos os que passam.
Não vê nem percebe o menino, muito menos suas chagas.
Não vislumbra sua tristeza e nem condição.
Vai para sua reunião de seu grupo religioso.
Lá, lê o Evangelho que fala da pobreza.
Explica a parábola do amor ao semelhante.
Interpreta o texto com perfeição.
Sai! O cristão cumpridor de seu papel volta para casa.
Esbarra, novamente, com o pedinte menino. Olha austero.
Limpa o local do esbarrão com as mãos. Sujeira.
Indignado corre para casa. Lá luzes, amigos e festa.
Mesa farta. Feliz Natal, diz. Nasceu o Salvador.
Reafirma o amor como pregou Jesus.
Reúnem-se os familiares. Novamente o Evangelho.
Este pede de novo amor ao próximo. Novas mensagens.
Todas de amor, de paz e de fraternidade.
No presépio, o menino-estátua fecha os olhos cerâmicos.
Lágrimas brotam da escultura argilosa, exclamando:
Não foi isto, Pai, que pedi nem ensinei...